Esta manhã acordamos com o pesadelo que o avião que transportava um humilde, esforçado e jovem equipa brasileira à sua primeira final internacional tinha deixado de funcionar e todos – aqueles que não entendem a vida sem futebol- sentimos ese gosto amargo do gramado, terra e lágrimas que causa uma derrota lancinante.
por Javier Manríquez

Escrever uma derrota, escrever de um descenso, perder uma final, escrever de um empate injusto, de um gol contra, de um penalty que não foi, de um Tendão de Aquiles que se rompe, de um camarim quebrado, de unm técnico que desiste. Escrever a tragédia, a dor, o peso sombrio que enluta a semana até o próximo domingo, até a próxima data, quando tomamos as balas, quando estamos apostando a honra, quando voltarmos, se os resultados são apresentados, quando de repente começa a gritar 1-0 é agora é nossa e libera a raiva de essa semana filha da puta que morre na cabeça de nosso 9 na área rival.
Escrever do domingo. De todos os domingos. Escrevendo um domingo, quando Chapecoense saltou para o campo com Danilo al arco, Felipe Machado, Marcelo, Matheus Biteco, Alan Ruschel, Gimenez, Cléber Santana, Gil, Sérgio Manoel, Tiaguinho, Canela, Lucas Gomes y Bruno Rangel. Na frente o Palmeiras, de local, que acabou ganhando 1-0 e celebrando o Brasileirão, o torneio mais dificil, de Brasil completo, que não tinha ganhado há 22 anos e que uma data antes do final fez o campeão de todos. E apito nas gradas e dentro de campo chorando e gritaria, e chape, furacão do Oeste, que tinha corrido o jogo inteiro, ele não tinha outra do que aplaudir e congratular, porque a história, sua própria, o que escreveriam eles na quarta-feira, em Medellín, com a rodada final na Copa Sudamericana.

Escrever no Chapecoense, então, foi para escrever que a equipe há seis anos estava jogando na série D, que faliu e transformou-se de novo, em seu primeiro Brasileirão foi o quarto, que classificou e eliminou San Lorenzo da Argentina na semifinal, Era para escrever sobre uma equipe discreta mas ordenada, humilde, física, escrever sobre a última derrota, no último triunfo, era escrever para despertar uma terça-feira e não entender nada porque para que entender o que não pode ser compreendido quando de repente tudo acabou.
Quem escolhe quem, quem escolher quando, quem escolhe como e porquê. Não se sabe. Não, você nunca vai saber. O triste, injusto, medonho, joga e de vez em quando aparece como um central violento e implacável e dá uma cotovelada na nariz e, em seguida, toca a orelha, como se dissesse “lembre”: lembre que isto é assim, assim é como a gente joga, enquanto um árbitro invisível levanta os braços e marca vai-vai, jogue-jogue. Sempre. Como Alianza Lima, que era ponteiro e caiu no mar 87 ‘; segue, como o Manchester United, que caiu em Munique 58 ‘, a ponto de jogar quartas de final, jogue, como os rugbistas uruguaios que caíram em Los Andes, vai, vai, como a tenista Daniela Seguel que jogava uma final em Santiago e seu pai descompensou nas gradas quando ela afirmava o segundo set. Jogue.

A vida, o futebol, e de novo a vida, que muitos simplesmente não entendemos sem o outro, é assim. Mas no futebol, no futebol na América do Sul, um cai e pára de novo, e anota para cobrar antes de terminar o jogo. E cobra. Você pode perder, mas perder tudo e deixá-lo lá também é ganhar, também há beleza. Talvez até mais. Escrever da pena, tragédia, é escrever sobre a essência do futebol, e que no fim é sempre escrever sobre a vida. E o futebol tem de Colo Colo 87 ‘, que emprestou seus jogadores para Alianza poder terminar esse trágico campeonato, forjando uma amizade que sobreviveu odiosidades e xenofobia até hoje.

O futebol tem a Bobby Charlton, que sobreviveu a esse aeroporto maldito na Alemanha para se tornar campeão do mundo com a Inglaterra, oito anos depois e local.

Escrever o futebol é escrever do gol mal anulado a Lampard, do penalty de Caszely, do travessão de Pinilla. Escrever de futebol é escrever, pela maior parte, de gestas, da gesta que passou e da que vem, da revanche, porque sempre tem revanche, sempre tem outros 90 minutos, em um campeonato que não sabe se vai terminar. Mas, em algum momento vai terminar
Não esqueçamos a esse últimos onze, Danilo, Felipe Machado, Marcelo, Matheus Biteco, Alan Ruschel, Gimenez, Cléber Santana, Gil, Sérgio Manoel, Tiaguinho, Canela, Lucas Gomes y Bruno Rangel.
Porque eles morreram jogando futebol. Para nós ainda temos a próxima semana. O próximo campeonato. Uma próxima final. E você tem que voltar a deixar a vida em cada bola, mordendo, com muita marcação… aparecendo de surpresa, às vezes sem muita técnica, mas sempre com coragem.

Para morrer jogando futebol é morrer para renascer na próxima semana, porque não tem outro jeito, porque se machucam você, tem de machucar de volta isso é futebol, porque as penas de futebol são passadas com o futebol, e nessa você tem que pôr, você tem que pôr tudo. Quando tomamos as balas, quando estamos apostando a honra, quando voltarmos, se os resultados são apresentados, quando de repente começa a gritar 1-0 é agora é nossa e libera a raiva de essa semana filha da puta que morre na cabeça de nosso 9 na área rival.